A corrida e o Trabalho de Parto
A corrida entrou na minha vida como uma forma de entrar em contato comigo mesma. De estar ao ar livre, olhando o céu e a natureza e conseguir olhar para mim.
Eu não tinha nenhum objetivo de prova. Só queria correr.
Mas o bichinho da corrida te pica, e em maio de 2023 fui para Santos correr “A Tribuna” uma corrida tradicional na cidade e que, por ter um percurso plano é uma prova que muitos corredores gostam e batem seu RP (recorde pessoal).
Eu finalmente ia correr 10km. Estava receosa pois nunca tinha feito aquilo em treino. Já tinha chegado em 8km, mas 10km era 20% a mais.
No dia da prova acordei cedo (sempre), me juntei ao grupo da minha assessoria e fomos até o local da largada. O coach dividiu a gente em grupos, de acordo com o tempo que a gente ia terminar e insanamente ele me colocou abaixo de 1h (na minha cabeça eu ia fazer em 1h10min). E lá fui eu, junto as demais pessoas, para a largada.
Corrida de rua é um negócio louco. Tem pessoas de todas as classes, de todos os lugares, de todas as idades. Algumas estreando, como eu, outras já perderam as contas de quantas corridas fizeram.
E então iniciei a corrida: tudo muito legal no início, todo mundo feliz. Música. Umas pessoas andando em grupos, outras correndo em dupla. Carrinho de bebê.
Eu logo me desprendi das pessoas da minha assessoria e segui sozinha. Quando olhei no meu relógio, vi um tempo que eu não acreditava. Continuei correndo e olhei um tempo depois, eu estava mantendo aquele tempo.
Logo um cara se aproximou de mim. Nos reconhecemos pela camiseta da equipe e ele disse “vou com você”. E eu respondi “não faz isso não porque eu não sei o que eu estou fazendo”.
Mas seguimos juntos por um bom tempo. Em alguns momentos ele ia na frente e eu logo o alcançava.
Por volta do km 8 estava chegando próximo a orla da praia. O rapaz não estava mais comigo. Eu estava bem cansada, mas começar a ver a praia no horizonte e saber que estava chegando não só me animou como me lembrou de um dos melhores momentos da minha vida: meu trabalho de parto. Eu logo pensei “está quase no expulsivo”.
E voltei a ter folego. Sim, estava dolorido, sim eu estava indo além do que achava que conseguia ir. Mas fui em frente.
Os aplausos e gritos das pessoas ao redor me fizeram tirar uma força não sei de onde.
E então cheguei, no maravilhoso expulsivo, quer dizer... na linha de chegada.
E a analogia com o trabalho de parto é proposital para dizer que, em alguns momentos, a gente teme por algo que doa, a gente não quer encarar algo que possa nos fazer sofrer no caminho. Talvez os relatos que a gente tenha ouvido nos impeçam de ter nossa própria experiência.
Mas o resultado que a gente escolhe de passar pelo desconforto e conquistar algo maior é extremamente prazeroso. Faz com que a gente se olhe de outra maneira. Serve de âncora para momentos difíceis que estamos vivendo e a gente pensa “lembra, você conseguiu aquilo que achava tão desafiador”.
Por isso, segue aqui meu incentivo: tente pensar no parto normal como algo que você pode conseguir.
E independente de conseguir ou não, terá valido a pena a tentativa.
E, se quiser começar algum esporte, indico a corrida, ela te faz ir muito além do que os kms que você corre!